As aulas de informática sempre causaram confusão entre professores de
informática e coordenadores escolares devido à metodologia que seria usado para
repassar tal conhecimento às crianças. Muitas escolas utilizam a informática
como uma ferramenta de apoio pedagógico. Mas como isso funciona? Nas principais
escolas pesquisadas o laboratório de informática fica a dispor dos professores
das disciplinas curriculares a espera que estes possam planejar uma aula com a
utilização do computador pelos alunos.
O problema é que este tipo de metodologia nem sempre funciona,
principalmente na cidade de Floriano, isto porque, os laboratórios de
informática não dão suporte necessário a outras disciplinas, os professores não
têm o preparo nem o conhecimento necessário para, nem mesmo, planejarem uma
aula no laboratório de informática. Segundo o coordenador de informática desde
2009 que a escola tenta implantar um programa de treinamento em informática,
mas não consegui. Na maioria das vezes os próprios professores manifestam
desinteresse pelo curso ou encontram justificativas para não participarem dos
treinamentos.
Outro fator que contribui para o isolamento dos laboratórios de
informática está centrado nas próprias crianças. A grande dúvida é qual a idade
para se começar a trabalhar os conceitos de informática na escola. Sabemos que
as crianças entram em contato cada vez mais cedo com os computadores seja em
casa, nas lan houses ou mesmo na
escola. Mas a idade para se trabalhar com essas crianças ainda não foi definida
claramente.
No entanto, tais problemas não impediu a escola Municipal Raimundinha
Carvalho, de trabalhar um currículo diferente para as aulas de informática na
escola. O primeiro passo foi a separação do que se podia trabalhar em
determinadas séries, criando um padrão de ensino aprendizagem na área de
informática dentro dos padrões dos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) e
a interdisciplinaridade. Assim buscou-se trabalhar editores de texto com a
disciplina de Língua Portuguesa, Planilhas eletrônicas com matemática e assim
por diante.
Para as crianças mais novas, um psico - pedagogo trabalha os
conhecimentos elementares da informática com um material desenvolvido na
própria escola. Nestas séries os estudantes recebem noções básicas e itens como
hardware e software são vocábulos constantes nas conversas e nas atividades dos
pequenos.
Assim buscamos um aprofundamento desta experiência pedagógica em
laboratórios de informática, observando suas vantagens e suas desvantagens no
contexto da educação no processo de ensino-aprendizagem.
Para a grande maioria dos alunos da escola Municipal Raimundinha Carvalho
o único contato deles com o computador acontece na escola. Assim as aulas de
informática não são somente “aulas de informática” é a chance de essas crianças
entrarem em contato com o mundo inteiro. De conhecer lugares, pessoas e
culturas diferentes das suas. As aulas de informática é um tipo de inclusão,
não só digital, mas muito mais social. Assim desde o ano de 2010 a escola
Raimundinha Carvalho, do município de Floriano vem testando um novo método para
as aulas de informática.
As crianças matriculadas na 1ª série do ensino fundamental têm uma visão
geral sobre o que é a informática, através de uma apostila elaborada e
produzida na própria escola que aborda vários temas interdisciplinares e
pequenos softwares. Os mais usados para esta etapa são o Paint (no Windows) ou
o Draw e o TuxPaint (em
distribuições Linux) para a confecção de desenhos e para
textos os professores utilizam o bloco de notas ou programas similares do
Linux.
Dentro do conteúdo trabalhado nesta série, professores de informática e professores
de sala discutem e planejam juntos às aulas. Temas como direitos e deveres,
educação no trânsito, partes de um vegetal entre outros. Tais conteúdos são
divididos e estudados nas duas séries iniciais do Ensino Fundamental.
Com uma boa base de conhecimento em informática, os alunos da 3ª série
trabalham especificamente a disciplina Língua Portuguesa juntamente com o
software para editoração de textos. Os mais utilizados nas aulas são o Word (do
pacote Office para Windows) ou o Write (do pacote OpenOffice para Linux).
Nas aulas de informática os alunos seguem um determinado cronograma que
prever todas as aulas desde a primeira até a última. Esses alunos devem,
acompanhados pelo professor de Língua Portuguesa, escrever um livro. As
criações dos alunos são impressas e apresentados a comunidade em um evento
realizado pela escola no final do ano letivo.
Os estudantes da 4ª série têm uma visão bem ampliada dos cálculos
matemáticos com a utilização de planilhas eletrônicas. A metodologia aplicada
neste contexto é usar os conhecimentos que os alunos adquirem em sala de aula
com a disciplina de matemática e possam está utilizando esse conhecimento nas
aulas de informática. Além dos conteúdos vistos em sala de aula o professor de
informática dar uma ênfase maior no conteúdo com a utilização de softwares como
o Excel ou o Calc, programa de computadores específicos para a criação e
manipulação de fórmulas matemáticas, noções de lógica e construção de gráficos
e tabelas. No fim do ano letivo os alunos devem apresentar como trabalho de
conclusão da disciplina de informática sua planilha de notas completo
juntamente com um gráfico mostrando a evolução do aluno nos quatro bimestres do
ano letivo.
Este, talvez, seja a série mais esperada pelas crianças que estudam na
Escola Municipal Raimundinha Carvalho, é porque na quinta série começam as
aulas de internet propriamente dita, antes disso os alunos utilizam a internet
somente para pesquisa e com a ajuda de um monitor. A partir de então o
professor de informática cria, junto com seus alunos, e-mails, e começa então a
confecção de uma página pessoal na internet para cada aluno. O programa
utilizado para a confecção de páginas de internet é o bloco de notas (se o
computador for equipado com Windows) ou um editor de texto qualquer em computadores Linux. Os
navegadores utilizados são o Internet explore, Fire Fox ou o Chrome.
O professor de informática, agora, recebe auxílio do professor de inglês,
já que para a confecção das páginas de internet, as crianças deverão aprender
uma linguagem própria para a criação dessas páginas o HTML. Para a criação dos
botões e folders que vierem a utilizar na confecção da página os alunos
utilizam os conhecimentos adquiridos anteriormente em softwares como o Paint,
por exemplo. Os trabalhos são realizados em duas etapas, a primeira com a
construção do site (off-line) e a segunda parte consiste na publicação da home-page e manutenção da mesma.
Para o 7º ano estamos trabalhando uma rádio on-line, juntamente com o professor de Língua Portuguesa que ajuda
na criação dos roteiros dos programas. O 8º ano trabalha edição de imagens,
principalmente fotos e trabalhos publicitários com a ajuda do professor de
artes. E no 9º ano os estudantes metem a mão na massa, literalmente, com o curso
de montagem e manutenção de microcomputador, os trabalhos são realizados com a
colaboração do professor de Ciências (Química e Física).
Talvez esta não seja a melhor forma de ensinar informática em
laboratórios de informática. Muitos estudiosos poderiam até dizer que o
computador é somente uma ferramenta para auxiliar os professores das
disciplinas auxiliares. Mas como o aluno vai realizar pesquisas ou mesmo
estudar determinada atividade no computador se ele nem mesmo reconhece seu
funcionamento? A solução encontrada pela escola Municipal Raimundinha Carvalho
pode não resolver todos os problemas da escola. Mas mostrou durante todo o ano
de 2010 que é uma formula válida para a realização da inclusão digital e social
de seus alunos. Alunos estes que só tocam um computador na escola.
O computador não deixou de ser uma ferramenta para o auxilio do professor
de sala de aula, ele só ganhou um redirecionamento pois, agora os alunos podem
estudar diretamente no laboratório de informática disciplinas como Língua
Portuguesa, Matemática, Língua Inglesa, física, além das disciplinas de
formação do caráter social da criança.
Verificou-se neste período que as crianças estiveram mais tempo na
escola, as aulas de informática além de ensinar contribuiu para a melhoria do
comportamento dos alunos em sala de aula e no aproveitamento final de suas
notas associando a prática do laboratório de informática a teoria de sala de
aula.
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Sebastião Assunção é Graduado em Ciências da Computação pela UESPI e Especialista em Tecnologias da Educação pela PUC-RIO. Atualmente é gestor e Organizador do Projeto UCA – Um Computador por Aluno na Escola Municipal Raimundinha Carvalho, na cidade de Floriano.